quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Um regresso demorado mas introspectivo

         Já faz um longo tempo que não escrevo no blogue, não é que não tenha querido continuar as peripécias da Verónica e a sua viagem pelo mundo do Autismo, simplesmente andei estes meses mais introspectiva e dei comigo a pensar se fazia ou não alguma diferença este blogue. Bem, não é algo vital como a carência de vitamina C ou D mas é algo que de algum modo pode responder ou dar a conhecer de uma forma mais realista, contudo será que valerá mesmo a pena? Há quem me peça para continuar pois gostam daquilo que leem, bem é sobretudo um alívio saber disso. Devo dizer que por vezes não é fácil para mim estas coisas modernas da internet porque acho importante proteger quer a imagem quer a própria identidade da Verónica. Obviamente que há quem nos conheça pessoalmente e saiba da nossa existência mas ainda assim prefiro não expor a imagem dela.
           Então o que se passou nestes meses todos que passaram???? Muita coisa como é óbvio, temos imensas histórias felizes e outras chamemos-lhes “não tão boas”. Estamos agora com 8 aninhos e um rol de histórias emocionantes, tivemos um final de ano lectivo complicado pois adivinhava-se o fecho da escola dela, mas por outro lado a colónia externa de Verão da AAMA este ano correu extraordinariamente bem e teve direito imagine-se, a um dia com o tão famoso Garrett McNamara. Contudo, apesar de termos tido um verão cheio de novas conquistas o impensável aconteceu mesmo, a escola nova (a seleccionada entre várias) não correu nada bem e desde a ataques de pânico a pesadelos nocturnos tivemos de tudo um pouco. Como superámos esse processo? Bem criámos digamos uma “experiência piloto” de ensino que falarei mais tarde pois não pode nem deve ser levada de ânimo leve mas que voltou a colocar um sorriso na cara de todos cá de casa, em especial da piolha.

By Verónica 

          Quando olho para estes 5/6 anos (os de diagnóstico) e olho para trás nem nos reconheço…..sim nem a mim, antes tinha sempre os nervos à Flor da pele, parecia que a qualquer momento poderia despejar uma cascata de lágrimas em cima de alguém….bem a maior parte das vezes era mesmo de raiva….uma raiva inexplicável mas muito sentida e stress muito stress. O que mudou agora? Bem o stress deve ser genético…não há por isso muito a fazer, lágrimas? Talvez em algum momento mas já não são de raiva….como li uma vez….resolvi adormecer o lobo anterior….por agora não haverá uivar, agora em relação aos nervos pode-se dizer que mudou imensa coisa, se o hábito faz o monge talvez os anos a viver intensamente o autismo nos torne cada vez mais parte dele e tudo começa a fazer sentido (muito lentamente). Aprende-se tanto com estes miúdos especiais….cheirar uma flor ou simplesmente apreciar a brisa que corre num dia ameno de primavera nunca mais foi a mesma coisa, é como descobrir que afinal o arco íris não tem 3 cores mas sim outras tantas, torna tudo tão mais colorido não é? Dá para imaginar um mundo sem a cor Azul? Não, claro que não e para além de ser a cor do céu e dos oceanos é também a minha cor preferida, o azul ser a “cor” do autismo torna tudo mais que perfeito. Estava eu a falar de aprender, bem acontece que aprendi a viver a minha história com a Verónica de uma maneira diferente e senti uma necessidade de “ajudar” ou a dar “conforto emocional” a outros pais. Nunca me passou pela cabeça sequer de fazer o papel de psicóloga de pais, não nem nada que se pareça, mas há de facto algo muito íntimo e especial em falar com outras mães e até pais (é mais raro, interiorizam mais parece-me) sobre as especificidades dos nossos miúdos. E engane-se quem pensa que os pais dos meninos com mais idade não têm nada a aprender com outros pais com filhos bem mais pequenos, isto é cá um mundo….não é à toa que agora não se fala só em Autismo ou Asperger mas sim Perturbações do Espectro do Autismo (PEA), quantas cores possíveis existem afinal num espectro?





        Todas as cores possíveis e imaginárias e é essa a probabilidade que existe para este nosso mundo, não há nenhum igual a nenhum, é algo demasiado único mas um desafio de todo o tamanho também. São tantas as histórias entre pais e mais que fazem com que este blogue seja apenas um pontinho no universo e sim todos os pontinhos são importantes porque fazem parte de um todo. O que me leva a renovar e a prosseguir com este blogue agora são todas aquelas mães com que vou falando durante estes anos todos e que partilham comigo as suas dúvidas e motivações, existe uma tal garra em cada uma dessas mães que me faz sentir mais animada e sobretudo inspirada pois algures sei que está uma mãe com uma batalha pela frente igual ou mil vezes piores que a minha. Não sei se algum dia vou saber se fiz ou não a diferença com as minhas palavras mas sei que pelo menos vão ficando registadas neste mundo virtual e quem sabe um dia faça toda a diferença a alguém ou até a mim própria ….num daqueles dias “não tão bons”.
            Amanhã pegarei neste blogue e vou lhe dar uma nova “alma”, estamos quase a acabar um ano e outro se avizinha por isso parece-me bem um novo desafio. Quero vos falar de tanta coisa, dos progressos da Verónica, do novo método e forma de ensino, do Natal e o Autismo (dava livros entre pais este tema) e tantas outras coisas, está tudo registado na minha memória mas passarei para o blogue pode ser que vos dê ideias ou até sugestões para o blogue.

Fiquem bem….prometo que não irei por muito tempo desta vez.


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