Ninguém tem
dúvidas que crianças com necessidades especiais necessitam efectivamente de
mães também elas especiais, o que para mim me parecia a coisa mais natural do
mundo veio a verificar-se ser sobretudo um requisito essencial para enfrentar
tudo o que o Autismo da minha filha envolvia. Como mães de crianças especiais
somo muitas vezes consideradas super mães ou “emocionalmente instáveis”, parece
um contra-senso mas de um modo geral é essa a ideia que têm de nós. O que faz
então de nós super mães? Sempre que se referem a mim nestes termos não consigo
evitar sorrir, não temos nenhum dom apenas tivemos de adaptar-nos a uma nova
realidade que ainda não está bem definida pela nossa sociedade e que até para
nós mães especiais existe ainda muito para aprender. Assim, somos “super”
quando entramos escola adentro e não hesitamos sequer em ir falar com a
direcção da escola dos nossos filhos mesmo quando esse assunto pode ser
resolvido no dia seguinte, mas no dia seguinte significa mais um dia igual ao
anterior; não temos qualquer problema em enfrentar médicos e dizer ou fazer
aquilo que para nós representa ser o melhor para os nossos filhos; não temos
qualquer problema em enfrentar os olhares “reprovadores” quando as nossas
crianças fazem “cenas” num sítio público e muita vezes são confundidas com
miúdos “mimados”; não temos qualquer problema em abdicar seja do que for para
melhorar a qualidade dos nossos filhos, nem que para isso tenhamos de abandonar
ou adiar a nossa carreira profissional para fazer face às necessidades dos
nossos filhos; temos muitas vezes de fazer o papel de vários familiares que em
situações normais não se afastam mas que é muito comum neste tipo de
diagnósticos; temos de ter quase sempre um sorriso nos lábios e fazer de tudo
para que os nossos filhos tenham a serenidade e estabilidade que tanto
necessitam, entre outras coisas. Então o que faz de nós “emocionalmente
instáveis”? Se é ou conhece uma mãe que tem uma criança especial, de certeza que
já viu estampado no rosto dessa mãe o sorriso maior do mundo quando surge uma
frase na boca do seu filho, como que festejando algum tipo de evento especial
certo? Decerto é mesmo um evento super especial pois quase de certeza foram
centenas de horas de terapia da fala, muito dinheiro investido, muito tempo despendido
e sobretudo alvo de muitas expectativas por parte dos pais e, o que seria natural
noutra criança qualquer não o é para estas mães. Quantas vezes as lágrimas e o
desespero estão presentes ao longo deste percurso? Quando alguém põe em causa o
método de intervenção por nós escolhido; quando nos dizem que mimamos demasiado a criança e que
isso trará consequências no futuro; que devíamos ter mais tempo para nós e não
viver tanto o Autismo dos nossos filhos (também gostávamos que assim fosse mas
temos de travar batalhas para que os nossos filhos possam ter uma vida o mais
normal possível); que os nossos filhos não podem ou não devem experimentar
coisas “normais” porque não têm a mesma capacidade (se não lhe dermos sequer
oportunidades como vamos saber do que são ou não capazes).
A pergunta que se
coloca é se seremos assim tão diferentes das outras mães? Penso que não seremos
assim tão diferentes, apenas vivemos uma outra realidade que faz com que
sejamos mais pro activas pois temos de antecipar situações que inevitavelmente
as nossas crianças vão ter de enfrentar e não estão de todos preparadas para
tal pois nem a sociedade está devidamente preparada para estas crianças.
Portanto, enquanto mãe de uma destas crianças especiais tenho como principal
missão criar as condições para que exista o menor número de obstáculos
possíveis ao longo da sua vida. Agora imaginem ultrapassar todos esses
obstáculos sabendo que poderá nunca haver linguagem e comunicação suficiente para
que eles se possam integrar realmente, ou que necessitem de expressar as suas
emoções em locais públicos de forma menos apropriada ou ainda que não consigam
ser suficientemente autónomos, são estas a nossas batalhas pessoais fazer com
que a sociedade aceite os nossos filhos como eles são! Talvez isso nos faça
parecer Super Mães e “emocionalmente instáveis”, do meu ponto de vista faz de
nós apenas mães, eu da minha parte transformei o Autismo da minha filha numa qualidade e não num defeito. E como hoje é o Dia da Mãe desejo a todas as mães um feliz dia
junto dos seus filhos porque esses sim são os especiais deste dia.
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