domingo, 3 de maio de 2015

Um dia especial para mães especiais



Ninguém tem dúvidas que crianças com necessidades especiais necessitam efectivamente de mães também elas especiais, o que para mim me parecia a coisa mais natural do mundo veio a verificar-se ser sobretudo um requisito essencial para enfrentar tudo o que o Autismo da minha filha envolvia. Como mães de crianças especiais somo muitas vezes consideradas super mães ou “emocionalmente instáveis”, parece um contra-senso mas de um modo geral é essa a ideia que têm de nós. O que faz então de nós super mães? Sempre que se referem a mim nestes termos não consigo evitar sorrir, não temos nenhum dom apenas tivemos de adaptar-nos a uma nova realidade que ainda não está bem definida pela nossa sociedade e que até para nós mães especiais existe ainda muito para aprender. Assim, somos “super” quando entramos escola adentro e não hesitamos sequer em ir falar com a direcção da escola dos nossos filhos mesmo quando esse assunto pode ser resolvido no dia seguinte, mas no dia seguinte significa mais um dia igual ao anterior; não temos qualquer problema em enfrentar médicos e dizer ou fazer aquilo que para nós representa ser o melhor para os nossos filhos; não temos qualquer problema em enfrentar os olhares “reprovadores” quando as nossas crianças fazem “cenas” num sítio público e muita vezes são confundidas com miúdos “mimados”; não temos qualquer problema em abdicar seja do que for para melhorar a qualidade dos nossos filhos, nem que para isso tenhamos de abandonar ou adiar a nossa carreira profissional para fazer face às necessidades dos nossos filhos; temos muitas vezes de fazer o papel de vários familiares que em situações normais não se afastam mas que é muito comum neste tipo de diagnósticos; temos de ter quase sempre um sorriso nos lábios e fazer de tudo para que os nossos filhos tenham a serenidade e estabilidade que tanto necessitam, entre outras coisas. Então o que faz de nós “emocionalmente instáveis”? Se é ou conhece uma mãe que tem uma criança especial, de certeza que já viu estampado no rosto dessa mãe o sorriso maior do mundo quando surge uma frase na boca do seu filho, como que festejando algum tipo de evento especial certo? Decerto é mesmo um evento super especial pois quase de certeza foram centenas de horas de terapia da fala, muito dinheiro investido, muito tempo despendido e sobretudo alvo de muitas expectativas por parte dos pais e, o que seria natural noutra criança qualquer não o é para estas mães. Quantas vezes as lágrimas e o desespero estão presentes ao longo deste percurso? Quando alguém põe em causa o método de intervenção por nós escolhido; quando nos dizem que  mimamos demasiado a criança e que isso trará consequências no futuro; que devíamos ter mais tempo para nós e não viver tanto o Autismo dos nossos filhos (também gostávamos que assim fosse mas temos de travar batalhas para que os nossos filhos possam ter uma vida o mais normal possível); que os nossos filhos não podem ou não devem experimentar coisas “normais” porque não têm a mesma capacidade (se não lhe dermos sequer oportunidades como vamos saber do que são ou não capazes).
A pergunta que se coloca é se seremos assim tão diferentes das outras mães? Penso que não seremos assim tão diferentes, apenas vivemos uma outra realidade que faz com que sejamos mais pro activas pois temos de antecipar situações que inevitavelmente as nossas crianças vão ter de enfrentar e não estão de todos preparadas para tal pois nem a sociedade está devidamente preparada para estas crianças. Portanto, enquanto mãe de uma destas crianças especiais tenho como principal missão criar as condições para que exista o menor número de obstáculos possíveis ao longo da sua vida. Agora imaginem ultrapassar todos esses obstáculos sabendo que poderá nunca haver linguagem e comunicação suficiente para que eles se possam integrar realmente, ou que necessitem de expressar as suas emoções em locais públicos de forma menos apropriada ou ainda que não consigam ser suficientemente autónomos, são estas a nossas batalhas pessoais fazer com que a sociedade aceite os nossos filhos como eles são! Talvez isso nos faça parecer Super Mães e “emocionalmente instáveis”, do meu ponto de vista faz de nós apenas mães, eu da minha parte transformei o Autismo da minha filha numa qualidade e não num defeito. E como hoje é o Dia da Mãe desejo a todas as mães um feliz dia junto dos seus filhos porque esses sim são os especiais deste dia.

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