quinta-feira, 16 de abril de 2015

Autismo: deficiência ou genialidade?



Explicar o que é Autismo para quem desconhece ou tem uma ideia completamente errada pode representar um verdadeiro desafio, por experiência própria tive várias situações que me deixaram um tanto ou quanto indignada, outras que não consegui “não rir” e depois tive situações que fui eu quem fui surpreendida. De um modo geral, a sociedade já definiu o que são miúdos “autistas”, ou são miúdos como aqueles que são retratados nos filmes (como por exemplo: O nome de código: mercúrio e O encontro de irmãos) ou então são potenciais Einstein e Bill Gates. No início preocupava-me muito em afastar o perfil de autismo da Verónica dos retratados no cinema, era quase tabu, hoje nada disso me incomoda pois o perfil dela não se enquadra em algo tão severo. Contudo, apesar de ter imenso potencial e aptidões para coisas que os miúdos ditos “normais” não fazem, não posso e nem quero fazer comparações com génios porque não é disso que se trata. Não conheço nenhum pai nem nenhuma mãe que tiveram de embarcar nesta viagem do Autismo que queiram ter um Nobel da Física em casa, apenas querem que os seus filhos consigam ultrapassar os obstáculos a que estão sujeitos pelo diagnóstico.
Uma vez disseram-me: “Eu tive sintomas de autismo, estive sentada na minha cama e abanei-me para a frente e para trás, tal e qual como os autistas”. Não consegui responder porque fiquei estupefacta, não por ter dito o que disse mas porque tinha alguma formação académica que permitia ter algum conhecimento e, porque me pareceu que queria ela própria ter Autismo, como se de um prémio tratasse.

Uma outra vez, abordaram-me como se me tivesse saído a lotaria e tivesse o próprio Bill Gates em casa, a pessoa em questão mostrava tanto fervor que fiquei na dúvida se a pessoa estaria bem da cabeça, era completamente despropositado. Foi quando ouvi: “Saiu-lhe a sorte grande, tem um pequeno génio em casa”, sorte???? Tive de acalmar a Sr.ª e explicar-lhe que apesar de a minha filha ter aprendido a dizer muita coisa em inglês sozinha e saber mexer no Word desde os 2/3 anos tinha outras dificuldades que podiam pôr tudo isso em causa mais tarde mas de nada adiantou.
No entanto foram mais as vezes que me perguntaram: “ O problema da sua filha é como aquele filme do Mercúrio não é?”, ou “Já viu aquele filme dos irmãos com o Tom Cruise? É tal e qual isso!” Nunca fiquei incomodada com este tipo de declarações, quem não lida com o Autismo não tem como saber muitas vezes do que se trata realmente o Autismo. Além disso sabe-se perfeitamente que a informação passada num filme de cinema fica mais facilmente retida que a informação dada por algum pai ou mãe.
Embora muitos indivíduos possam vir a ter formação académica, sabe-se que outros nunca irão conseguir falar, é tudo muito incerto para quem vive este drama e é uma uma longa jornada com muitos altos e baixos em que as expectativas não podem e nem devem exceder a realidade.
Não gosto da palavra deficiente, os miúdos do Espectro do Autismo são crianças especiais que requerem tempo especiais para o seu desenvolvimento, são únicos até no seu diagnóstico, não existe nenhum igual a outro e são sobretudo lutadores.

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