terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Jake, um cão muito especial e colorido!

        Quando se recebe ou se tem suspeitas de um caso de autismo, regra geral inicia-se uma busca por tudo aquilo que possa ajudar e muitas vezes caímos no erro de por impulso tomar decisões menos acertadas, mas isto acontece com toda a gente, certo? Bem de entre milhares de soluções (estou a exagerar obviamente), foi-nos sugerido um cão para a nossa Verónica mais concretamente um Labrador pois seria supostamente a “raça” indicada para o autismo. Bem, nós já tínhamos o nosso cão, o Max, um Pastor Alemão super leal e até bastante calmo e super protector mas que não despertava interesse na Verónica. Era como se ela ignorasse completamente mas como bem sabemos todos aqui, esta é uma das principais características do espectro, a não interacção. Quando comentava com pessoas acerca do tema de um novo cão, todos sugeriam o Labrador e apenas uma pessoa sugeriu um novo Pastor Alemão, acontece que nós não queríamos ter mesmo outro cão mas acabamos por ceder, não foi difícil, bastou apenas eu segurar e tocar num cachorro. Em relação aos animais, sou pior que os miúdos que mexem em tudo o que não devem só porque são atraídos por algo, senti uma necessidade de o trazer para casa, para fazer parte da nossa família com a possibilidade de ele estimular a Verónica. Estava tão mas tão longe da realidade, ela não interagia com ele o Ty, ele só tinha interesse em andar atrás de mim ou de comer, era e é tão bruto que passa até por cima da miúda como se deixasse de a ver. Claro que não tem maldade nenhuma, é completamente desnorteado e até nos dizem que ele é hiperactivo. Tentámos claro várias coisas, estava fora de questão de aceitar sugestões de que ele deveria ir para uma quinta ou outro sítio qualquer, se é o elemento da família só tem de estar junto da família, não temos nós todos defeitos? A veterinária, disse que assim como nos humanos há cães que têm também perturbações mentais e que claramente ele teria alguma mas nada de grave, boa era só o que me faltava, pensei na altura. Depois disse-me que tinha sido enganada no sentido que ela não aconselha esta raça para crianças como a Verónica, existe raças bem mais adequadas e claro existe a hipótese de se obter um cão já treinado mas além de ser caro tem de se esperar como se fosse uma encomenda quase exclusiva…..bem nós tínhamos dois cães, não íamos ter um terceiro de certeza.


       Continuamos na nossa vida normalmente, e passado algum tempo o nosso Max ficou gravemente doente e acabou por não resistir à doença, decidimos pela eutanásia devido à agonia em que ele estava mas quando veio se despedir da família morreu serenamente junto de mim, gosto de pensar que foi um acto de generosidade dele para comigo pois eu tinha lhe prometido que ficava com ele até ao último suspiro…..até ao último suspiro Max!  Foi talvez a pior coisa que me aconteceu na vida, ter perdido o Max, embora muitos não possam compreender como me relaciono com os animais quem me conhece sabe que para mim eles são família, logo a perda é um monstruoso vazio que jamais será preenchido….o Max era mesmo um cão muito especial e cheio de personalidade. Após a morte do Max, a Verónica começou estranhamente a perguntar por ele, nunca o tinha feito, deduzimos que era a alteração da rotina mas não ela queria-o de volta e ainda hoje, faz agora em Março 3 anos que eles nos deixou e ela ainda repete o nome dele pensativa.


     De modo a eu parar de chorar, um familiar decidiu que a solução era ir buscar outro Pastor Alemão, na minha mente só de pensar nisso me dava a volta ao estômago, era mais uma prova definitiva que o Max nunca mais voltaria para mim. Reticente aceitei ir só ver uma ninhada, claro que estava metida em trabalhos mal vi aquela ninhada, só me apetecia chorar e ao mesmo tempo abraçar eles todos e levá-los comigo, no fundo senti um rasgo de esperança….só não sabia do que se tratava ainda! O mais engraçado é que a Verónica foi connosco nesse dia e estava super interessada na ninhada, até descartou o ipad, o que naquela altura era impensável pois era até bastante obsessivo. Como ainda eram pequeninos, ficaram mais tempo com a mãe e viemos embora, sentíamos todos um misto de emoções mas ninguém parecia interessado em falar muito acerca disso. Quando finalmente fomos buscar o Jake (demos esse nome porque significa: aquele que vem ocupar o lugar do outro….físicamente), ele parecia que estava à nossa espera, assim que viu a minha filha mais velha foi logo ter com ela e já não a largou. 


        A Verónica parecia não ligar nenhuma ao Jake mas era volta e meia apanhada a observar o cão, de vez em quando perguntava pelo Max e ficava nos pensamentos dela. Como qualquer cachorro, roía tudo cá em casa, inclusive fomos de urgência à veterinária uma vez por causa de lhe ter sido arrancado um dente numa das suas peripécias com uma caixa decorativa, na nossa ausência claro. Então um dia, vou eu serenamente calçar os ténis da Verónica, os únicos que ela aceitava calçar e vejo que estavam completamente destruídos por ele, tentamos explicar a ele e para nossa surpresa não ficou sequer chateada, riu-se e deixou passar, ficamos atónitos sem saber o que pensar e começamos a ficar ainda mais atentos a eles os dois. 

       O Jake sempre foi aquilo que nós aqui em casa chamamos docilmente de cão palerma, não tem nada a ver com o Max nem com o Ty, de alguma forma ele sente que tem de estar literalmente em cima da Verónica ou colado nela mas é tão doido que não consegue conter o entusiasmo e desliga-lhe o computador sem querer às vezes ou derruba algum jogo que ela esteja a jogar e, ela não se importa. Numa tentativa clara de fazer com que ela interagisse, o Jake começou a fazer disparates, a correr feito doido, embatendo em coisas para elas caírem e a Verónica desatar a rir à gargalhada. Então aconteceu algo único, ela começou a chamar-lhe “burro” ou “parvo” cada vez que ele fazia alguma palermice e, de repente era como ser o porta voz do Jake, respondia por ele quando falávamos com ela, o que era estranho pois não respondia ela às nossas perguntas. A relação entre os dois era tão especial que começou a partilha do comer, ele sorrateiramente posicionava-se aos pés dela e pedia comida às escondidas, se no início ela dava só o que não queria logo começou a partilhar o que gostava, tivemos que redobrar as desparasitações da Verónica pois para ela o Jake era como a irmão ou talvez não, ela não partilha comida com ninguém só com ele.


      Estava tudo a correr lindamente, o que não surpreendeu nem mesmo a veterinária e então, começou a parceria dos disparates, sempre que a Verónica queria fazer asneiras desafiava e chamava o cão, quando víamos o cão a fugir de nós mal nos aproximávamos da situação percebíamos que havia algum disparate dos grandes. A última grande que aconteceu cá em casa foi uma inundação na casa de banho, a meio da noite a Verónica levantou-se sem ninguém dar por isso, só o Jake. Resolveu despir-se toda, e encher a banheira toda com água mas antes colocou cerca de três rolos de papel higiénico na banheira e claro entupiu tudo e a água transbordou saindo até da casa de banho para o corredor, isto tudo às quatro horas da manhã. O Jake em vez de chamar alguém como faz noutras situações resolveu partilhar aquele momento com ela e quando demos conta estavam os dois aos saltos a chapinhar na água do chão da casa de banho. Imaginem acordarem àquelas horas e assistirem à cena, ainda hoje a Verónica olha para a banheira e ri-se que nem uma perdida, imagino só a diversão daqueles dois….agora acordo sobressaltada para ver se não estão na casa de banho.


        No dia 24 de Fevereiro tivemos um acontecimento que nos deixou a todos de rastos, vivemos numa zona onde de vez em quando alguns cães são abandonados na altura da caça principalmente, e andavam cadelas com o cio, os nossos dois cães acabaram por conseguir fugir e só tinha voltado o Labrador, o Ty. Ficámos de rastos pois o Jake não é um cão orientado, sabíamos que não saberia voltar para casa sem ajuda, logo entrámos literalmente todos em pânico. Fizemos imensas buscas nos terrenos, colámos cartazes, fomos à GNR, publicitámos em sites de procura e fizemos apelos no Facebook, tive de abrir mais publicamente a relação dele com a Verónica pois temia que mo tivessem levado, prometi inclusive que não participava às autoridades mesmo que se tratasse de roubo, não aguentava saber que a Verónica ia mesmo ter esta perda pois não teria sequer a capacidade de compreender. Conseguimos apelar de tal forma que houve milhares de partilhas e acabou por voltar no domingo de manhã, perto da antiga escola da Verónica e claro a alegria e estabilidade voltou a reinar cá em casa, obviamente rédea curta para o Jake.


     Queria partilhar aqui no blogue esta história pois há coisas tão simples mas que têm um significado tão grande na vida dos nossos miúdos especiais e não, não tem de ser um Pastor Alemão, pode ser um cãozinho rafeiro, um gato, um coelho etc etc. Os cães têm a grande vantagem de conseguirem “cheirar” o autismo dos miúdos mas há histórias incríveis com gatos e outros animais com estes miúdos, se puderem e se tiverem condições para isso estudem bem esta opção…..a resposta é sempre a mesma….sensibilidade e amor!



      Deixo aqui um link de uma página que foi criada por mim no Facebook, sugeriram que fizesse uma para ajudar outros animais, seja procura, resgates, adopções ou só partilha de histórias….se o Jake conseguiu milhares de partilhas e voltou para casa por causa delas, porque não podemos fazer o mesmo por outros animais??? Quantos Jakes e Verónicas existirão por aí, certo? De vez em quando partilharei lá algumas aventuras da Verónica do Jake para avivar a página, os outros animais também merecem a nossa ajuda. Partilhem e participem na página, foi a forma que arranjámos de agradecer todas as partilhas do nosso apelo.



 Fiquem bem e mimem os vossos miúdos….as crianças e claro os patudos!


https://www.facebook.com/Jake-o-her%C3%B3i-1846486768922742/?pnref=story

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