Quando se tem uma criança com necessidades especiais sabe-se
à partida que todo o caminho a percorrer será extremamente incerto e até
imprevisível mas uma coisa todas as famílias destas crianças têm a certeza
absoluta de que toda a dinâmica familiar será implicada nas decisões a tomar-se
de futuro. Embora isso já não seja novidade para nós cá em casa e até tenhamos
nos adaptado bastante bem a esta realidade, melhor até que muitas dessas famílias
para ser sincera, não estávamos no entanto preparados para “encalharmos” quando
tudo parecia estar a correr tão bem do ponto de vista terapêutico com a
Verónica.
Quase que de um momento para o outro o método das terapias
que tínhamos escolhido e que tanto sucesso tinham trazido às nossas vidas deixou
de fazer sentido ao fim de quase quatro anos. Quando demos por nós lá estávamos
nós a argumentar o porquê de não querermos a medicação para “ajudar” no
processo, entre lágrimas, cansaço, frustração e até desespero tivemos que “romper”
literalmente com tudo o que tínhamos feito até ao momento, o que como devem
imaginar foi muito difícil para todos. Sempre soubemos que as terapias podiam
ou não funcionar com a Verónica, tudo dependeria das especificidades do seu
Autismo e claro do seu perfil enquanto criança mas acreditem jamais esperei
ouvir a Verónica dizer isto à terapeuta da fala: “You're dead to me!”. A partir desse momento ou alinhávamos na
medicação e continuávamos com esse modelo terapêutico ou teríamos de adoptar
outra alternativa que embora exista não há assim tanta variedade em Portugal na
minha opinião. O problema de se optar por uma alternativa é que temos que “romper”
com terapeutas, com o método escolhido por nós pais e claro quase sempre “romper”
com o médico que quando escolhemos foi a pensar ser o melhor para a
nossa filha. Assim, resolvi marcar uma consulta com um Pedopsiquiatra muito
conhecido na área do autismo (o qual eu já tivera uma formação sobre autismo no
passado) e, se ia tomar uma decisão tão drástica teria de ter como que a “bênção”
da pediatra da minhas filhas, a qual eu tenho plena confiança, até mesmo em
questões relacionadas com o autismo.
A consulta com o Dr. Pedro Caldeira para
minha surpresa demorou uma hora, onde mais de metade da consulta ele esteve
literalmente no chão com a Verónica a avaliar o comportamento dela, criou-se
uma empatia tão grande entre eles os dois que surgiu em mim naquele instante
esperança de que dias melhores iriam surgir sem sombra de dúvida. A pediatra
ficou como que aliviada pois disse-me: “Se fosse a minha filha eu teria feito
exactamente o que a Joana fez!”, tenho a sorte de a pediatra conhecer tanto o
método como os dois médicos em questão, acaba sempre por se ter conhecimento de
causa quando assim é. Da minha parte foi-me imensamente difícil “desapegar-me”
de uma das terapeutas da minha filha pois era até então o meu porto de abrigo
desde o diagnóstico, teve um papel muito mais importante que a maior parte dos
nossos familiares para verem a dimensão da situação mas de facto ela disse que
o que nós pais estávamos a fazer era neste momento o mais correcto a fazer.
Neste momento a Verónica continua sem fazer qualquer tipo de medicação pois desta vez ficou fora de questão o défice de atenção, logo está fora de questão pensar em medicação. As terapias que tem agora envolvem mais o
físico, entres as quais a natação adaptada e o karate adaptado e tem sido
surpreendente a empatia que criou com as duas novas terapeutas, para além das
alterações bastante positivas no que toca ao seu comportamento. Talvez o
primeiro ano escolar não tenha sido um sucesso quando comparado com outras
crianças mas, ao que parece estamos a “entrar” numa época boa para se colher
novos frutos e cá para mim vamos ter imensas novidades no início do próximo ano
lectivo. Vivemos todos cá em casa agora num momento de harmonia porque a
verdade é que funcionamos todos como um só e se um está mal cá em casa, todos
os outros também estão.
Quando penso nesta minha viagem pelo mundo do Autismo
penso que no fim quem vai vencer todas estas batalhas vai ser o amor, o amor
que existe na nossa família pois é esse amor que tem movido montanhas pela
Verónica.
Não tenham nunca medo da mudança, tenham sim medo de não terem a coragem para avançar.
Joana Fernandes
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