Hoje foi um dia particularmente estranho mas ao mesmo tempo
foi algo tão familiar que não consegui evitar partilhar no blogue. Preparava a
Verónica para mais uma sessão terapêutica, desta vez natação adaptada, quando
fui abordada por uma mãe com um menino de três anos, queria saber se a minha
filha fazia aquela actividade terapêutica há muito tempo. Quando olhei melhor
para o seu rosto percebi logo, estava perante uma mãe que recebera o
diagnóstico de autismo recentemente ou então estaria ainda em avaliação de diagnóstico. Respirei fundo,
reconheci aquele momento daquela mãe como sendo tão familiar, é incrível como podemos
ficar tão expostas enquanto mães destes meninos especiais. Assim, deixei a
conversa ir fluindo pois cada pai e mãe tem o seu próprio tempo para assimilar,
assim como necessita de tempo para se conformar e fazer a próxima pergunta,
inevitavelmente com receio da resposta da outra mãe já com alguma experiência
no caso.
Uma coisa que aprendi nestes últimos anos é que existe uma
partilha de experiências muito grande entre pais de autistas quando esses momentos se proporcionam de
alguma forma, ainda que seja num balneário de
umas piscinas ou simplesmente à porta de uma escola, não interessa o local nem de
que pais se tratam apenas importa a partilha. A Verónica é a minha segunda
filha e nunca tive necessidade nem vontade de partilhar fosse o que fosse com a minha filha mais velha,
agora toda essa perspectiva deixou de fazer sentido.
Falei depois durante meia hora com essa mãe, perdi quase a
aula toda de natação da minha filha com muita pena minha mas sabia
perfeitamente que aquela mãe precisava de se animar, parecia à beira das tais
lágrimas iminentes tão comuns em nós mães de miúdos especiais. Naturalmente que
agora os nossos caminhos irão cruzar-se mais vezes assim como os nossos filhos
e, fico feliz por ter tido aquela conversa pois eu precisei dela quando passei
pelo mesmo mas não a tive. Teria feito diferença saber por outra mãe aquilo que
transmiti hoje? Talvez sim talvez não mas uma coisa é certa teria me sentido
muito melhor pois saberia que não estava sozinha nisto do Autismo.
Quando digo que o autismo da Verónica fez de mim uma pessoa melhor estou a ser sincera, pois momentos como o de hoje não aconteceriam assim, não desta forma.
Joana Fernandes